exatamente cinco minutos depois das seis horas. Chateado, o professor Babi revelou
que, pela primeira vez em muitos anos trabalhando junto à UFC, ele avaliaria
apresentações de projetos de pesquisa com uma banca julgadora na qual apenas ele
estaria presente.
Traindo também a rotina, a leitura dos relatórios, feita sempre nos primeiros minutos de
aula, não ocorreria desta vez por uma confusão de datas ocasionada provavelmente pelo
caos das atualizações nos compromissos em nossas caixas de e-mails. Íria, uma das
vítimas deste transtorno e que deveria ter lido o relatório do dia, lamenta não ter escrito
sobre uma das aulas mais importantes da disciplina e nos conta que havia desejado que
a aula a ser relatada por ela fosse aquela. Mas, talvez por ironia do destino ou por uma
singela coincidência casual para que a aula não se perdesse totalmente nos dias corridos,
Martônio havia registrado seu próprio relatório em forma de e-mail enviado ao
professor. Por solicitação de Babi, Martônio o leu para que recordemos o encontro
passado, acentuando o caráter emocionante que a apresentação teve. Babi nos conta que
aquela apresentação nem chegou a ser a mais elaborada ou a mais emocionante que ele
já fez sobre sua tese de doutorado, mas, ainda assim, emocionou a turma, pois se tratou
realmente da vivência da Pesquisa Qualitativa.
Prosseguindo, para nos dar uma lição, um professor justificadamente desapontado com
a turma por não ter cumprido o horário firmado por nós mesmos reclama da falta de 2
responsabilidade afirmando que “um homem só é homem quando tem um relógio e uma
mulher”. Babi contou que, ao ouvir tais palavras, achou inicialmente a anedota boba,
mas ali na aula ela parecia fazer todo sentido, pois um homem que carrega nas costas a
responsabilidade de cuidar de alguém e que sabe ser pontual consegue honrar seus
compromissos. Todavia, o professor entendeu que o motivo de ter havido uma
negociação pelo horário foi por conta de outras obrigações que alguns estudantes tinham
ainda naquela noite e pediu para que a aula se encerrasse às nove horas.
Sem mais atrasos e após a leitura dos títulos dos projetos os quais seriam apresentados
em poucos instantes, o professor passou a palavra e o palco para as cinco equipes que se
prepararam para preencher aquela noite com criatividade e conhecimento. Então, entre
saltos altos, calças sociais, blusas bem engomadas e muita ansiedade, potencial e
curiosidade, os projetos de pesquisa ganharam movimento em projeções numa parede
antes sem graça e em palavras bem escolhidas.
Abrindo alas para as apresentações da noite, Adriane, Gabriela e Jéssica expuseram um
projeto de pesquisa com o título Psicólogo da família: percepções acerca da atuação de
psicólogos na Estratégia de Saúde da Família em Sobral-CE. Tal trabalho tinha como
objetivo investigar a percepção das pessoas (inclusive a do próprio psicólogo)
envolvidas com as práticas deste profissional nos Centros de Saúde da Família. Babi, ao
final da apresentação, fez algumas considerações a respeito da possibilidade de
aplicação de outras metodologias, mas elogiou o trabalho e afirmou que, no geral, as
meninas atingiram os resultados esperados.
A segunda equipe a se apresentar na noite de sexta, composta pelas estudantes Íria,
Thamila, Maria Júlia e Hanna, abordaram um tema ligado ao desenvolvimento infantil
com um projeto intitulado como Inventando infâncias: as implicações da prática de
contação de histórias nos processos de subjetivação infantis na escola Arco-íris em
Sobral-CE. A apresentação foi feita com muita responsabilidade: apesar das
recomendações típicas de todas as metodologias, as meninas foram ousadas,
apresentando não apenas uma questão de partida, não apenas um problema. Elas
partiram da pluralidade, o que já diz muito da postura dessas pesquisadoras, não se
focando num problema único, meramente construído para virar projeto de uma
disciplina, mas um problema plural, com todas as complexidades que a vida pode 3
oferecer. E, para dar conta de um problema como este, elas utilizaram a cartografia, pois
esta é uma metodologia que se propõe à compreensão do movimento. Babi reconheceu
tal ousadia e a erudição das estudantes, enquanto característica do cartógrafo, elogiando
o trabalho.
Chegando à metade das atividades, uma terceira equipe, constituída por Martônio,
Vanessa, Paulo Roberto e George, apresentou seu projeto designado como Participação
popular em saúde comunitária: um estudo acerca da atuação de lideranças
comunitárias na cidade de Sobral-CE. O projeto foi muito bem apresentado incitandonos a entender como se dão os processos de promoção da saúde através do líder
comunitário e seu vínculo com o Sistema Único de Saúde.
O penúltimo grupo, formado por Marçal, Fabrício, Aélio e Flávia, tocando no assunto
das diferenças, apresentou o trabalho denominado como As expectativas e o projeto de
vida que pais de pessoas com Síndrome de Down tem para seus filhos em Sobral. A
apresentação foi bem interessante versando sobre a constituição da doença e como as
pessoas lidam com ela. Alguns aspectos foram ainda ressaltados pelo professor, que
elogiou o modo como a equipe evoluiu no tema trabalhado e enfatizou a importância de
ter boas idéias no ambiente acadêmico postas, não só no papel, mas em prática.
Fechando as exposições da noite, a quinta e última equipe, formada pelos nossos amigos
Danielle, Kércio e Paulo Henrique, abordou um tema relacionado ao atendimento
psicológico com o projeto de pesquisa Concepção dos usuários e dos psicólogos acerca
do saber-fazer da Psicologia no Centro de Atenção Psicossocial Geral (CAPS) em
Sobral-CE. Estimulados pela disciplina de Estágio Básico I deste semestre, assim como
a maioria dos trabalhos, os estudantes destacaram alguns pontos interessantes, como a
constituição do CAPS e sua dimensão histórica, além de passear pelo assunto da
interação usuário-psicólogo na instituição referida.
Após todas as apresentações dos projetos que sobrepuseram as expectativas e após os
comentários feitos pela comissão julgadora composta pelo professor Babi Fonteles, este
último ressaltou a importância do exercício da crítica, que se adequou muito bem à
ocasião. Ele disse que às vezes parece que as pessoas não dão valor ao nosso trabalho,
mas o crítico funciona como um treinador, o qual sabe onde existem defeitos e faz a 4
gente enxergar o que não está legal, o que está doído, e assim podemos trabalhar
melhor. E, como bom crítico e um professor orgulhoso, Babi comenta sobre o alto nível
dos trabalhos: “qualidade bem boa”, disse ele.
Então, traindo mais uma vez o horário preestabelecido, a aula se encerrou exatamente
aos quarenta minutos após as nove horas da noite de uma sexta-feira bem movimentada