sexta-feira, 1 de abril de 2011

Relatório de 1 de Abril de 2011

Por Ana Beatriz Albuquerque Almeida e Mayara Souza da Silva


Após  a presença confirmada dos relatores, o professor Babi dá início às atividades
do dia comentando  que teremos dois momentos interessantes na aula, dois relatórios
sobre a aula passada e o seminário sobre Pesquisa-ação. Em seguida conta-nos que
demorou quarenta anos para descobrir que no dia primeiro de abril, considerado o dia da  mentira, podemos fazer algo melhor neste dia, aprendeu com uma pessoa próxima que  tornou este o dia de uma grande verdade.

O professor Fonteles  se lembra de já termos falado sobre pesquisa-ação e pesquisa
participante na aula anterior, ambas são parecidas, porém distintas, cada uma com suas  especificidades e compreendê-las desde agora é um exercício de extrema importância,  é um bom caminho para a formação  acadêmica, pois dois sinais de maturidade que o pesquisador demonstra na apresentação do seu trabalho é  a clareza do que se trata a pesquisa e dos procedimentos metodológicos usados.

Os relatórios das aulas são lidos pelas duplas responsáveis, o primeiro, de Andressa e Danielle, em seguida o relatório de Jane e Lycélia. Em seguida a sala é questionada se há comentários. Babi  explica que o comentar é um exercício de concentração em algo, pensar sobre o assunto, o exercício do comentário possui funções importantes, a primeira é estar atento aos fatos; a segunda é criar, pois comentar é o primeiro passo para pensar com suas próprias ideias,  são palavras suas sobre o texto do outro, isso me  permite uma diferenciação dos outros, não ser apenas um discípulo apaixonado pelos seus mestres, Marx, Levi Strouss, talvez Nietzsche, mas ir além, ter seus próprios pensamentos e este exercício nos remete uma autonomia, dessa forma nossa passagem não será esquecida, perdida no meio da multidão. George toma a palavra parabenizando as equipes, principalmente pela atenção aos detalhes, pois lembrou as discussões anteriores que o estimulou para as discussões seguintes. Kércio exalta a participação de duas equipes como forma de enriquecimento dos olhares. Thamila  coloca que o relatório remete ao tempo, lembrando suas leituras  sobre Cronos e Aion, não apenas o tempo cronológico, mas a intensidade dele, o tempo que se materializa. Íria pensa o relatar como um recorte, uma fotografia, algo capturado no ambiente aula e com duas equipes temos fotografias diferentes, no olhar, no compartilhar.  Andressa expõe a densidade do texto e do seminário da aula anterior, pela quantidade de comentários, o que  exigiu grande  esforço na escrita e condensação do texto. Babi comenta que a densidade da aula se reflete na densidade dos relatórios.

Ainda há uma terceira ressalva sobre o ato de comentar, o professor diz que tem coisas que chegam até nós como  um clarão, um raio e jamais  nos esqueceremos delas.
Temos a impressão de que descobrimos coisas sobre o ser humano, mas não descobrimos, nós inventamos sobre o homem, as ciências humanas são criativas, antes de Freud falar sobre o inconsciente, não sabíamos sobre o assunto, hoje  todos temos um inconsciente, criamos métodos para acessar o que antes nem existia. As classes sociais não existiam antes de Marx, cada um destes autores são criadores, artistas que elaboram imagens sobre o que é o homem, dessa forma para que tenhamos uma noção clara do fazer, do criar no mundo, precisamos estar atentos.  No terreno das ciências humanas o problema não é a verdade e sim a criação, todos os livros não passam de comentários sobre o homem.

A questão da autonomia, não como um acúmulo de idade ou bens materiais, mas como algo presente nas nossas relações, é recolocada por Babi em um pedido de aprofundamento do conceito nos relatórios lidos.

A equipe composta por Andressa, Beatriz, Mayara e  Shyrlane dão início a apresentação do seminário sobre a metodologia da pesquisa-ação. Passados trinta
minutos de apresentação o professor interrompe e convida o grupo a sintetizar o
assunto, para que ainda haja tempo para discussões posteriores.

Após o fechamento do seminário, Babi solicita que os comentários se direcionem ao conteúdo da pesquisa-ação, a partir do que foi exposto pela equipe. George cita a questão da participação dos autores e lembra de uma leitura no qual considerava os participantes como autores e não  como atores, através de uma interlocução e fica em dúvida sobre a pesquisa-ação ser um método e não uma metodologia. Shyrlane expõe
sua opinião, dizendo que tais nomenclaturas variam de acordo com a pesquisa e

Andressa complementa falando de grupos de estudos, uma união entre ambos. Para responder a indagação de George, o professor  cita Foucault, no qual pede para “rachar” as palavras, procurar outros sentidos. Na visão de Thiollent, o método possui um sentido mais amplo e a metodologia seria um instrumento, divergindo de nossa língua portuguesa, onde os significados se invertem. O professor faz uma analogia às peças de teatro, no qual o autor  possui um papel primordial e os atores são de grande importância e vê os participantes não somente como atores, mas também como autores.

Kércio enxerga as minorias que são desprovidas de poder, que entram em destaque na pesquisa-ação e o enfoque da transformação. Babi pergunta se a turma identifica algumas correntes neste tipo de pesquisa. Gabriela percebe o marxismo, no qual vai a campo para levar luz a estas pessoas, o pressuposto é romper a racionalidade de usar o outro como objeto e passar a vê-lo como sujeito, ou seja, há uma mudança de
perspectiva. Fonteles fala do ideal da leitura do texto completo, não fazendo uma leitura apressada.  Tem como enfoque  no texto o indivíduo não como objeto, mas como sujeito ativo e  o pesquisador não é o intelectual. Os objetivos não estão definidos, a pesquisa diz respeito a uma situação real que sugere uma transformação, pois as pessoas envolvidas se sensibilizam, porque toca algo referente a vidas delas. Ação e democratização estão relacionadas. Ressalva que o marxismo é um dos pilares da pesquisa-ação, é uma atitude de discernimento, há alguns pontos, não todos, que embasam a pesquisa. O professor interroga qual a categoria do marxismo  está  presente.

Gabriela  salienta que a grande base a se pensar é a noção do sujeito, através da dialética. O professor fala que é algo mais simples. A palavra ação, no sentido marxista, aparece como  práxis, uma ação que não pode ser outra senão transformadora da realidade. O sujeito produz pela práxis, é a ação do sujeito no mundo.Shyrlane pergunta a Babi se a pesquisa-ação pode ser considerada uma pesquisa normativa, este responde a dúvida conceituando a normatividade, são categorias vinculadas aos autores e épocas que estão constituídas. Se for considerar a perspectiva de cientificidade, a pesquisa-ação além da transformação e produção de conhecimento, possui um rigor, é preciso  esclarecer como chegou e como foi feita, uma revelação da receita como de fato foi procedida.

Paulo Henrique indaga como se dá a participação coletiva e o que seria o método.
O professor destaca o método como dispositivo e enquanto dispositivo o papel do seminário é o primeiro lugar onde o coletivo se apresenta e todos tem o poder de construir a pesquisa, colocam-se à disposição, diz a realidade para o coletivo, apresenta o necessário para se transformar, além de planejar o diagnóstico. Babi  faz uma alusão citando sua pesquisa,  onde apresentou uma  proposta  de um curso  para docência em uma comunidade  indígena.

Beatriz aproveita a ressalva de  Babi e diz que se perguntou se a metodologia usada por Babi na pesquisa com os índios de Almofala foi do tipo pesquisa-ação, o professor  responde que sua pesquisa teve nuances de etnografia e  pesquisa-ação, mas não especificamente, pois não houve os seminários de maneira formalizada como  deve ser na pesquisa-ação.  Criou sua própria metodologia que a batizou de “uma descrição densa de uma experimentação intensa”, um link que abrange um conjunto de categorias sobre metodologia, dialoga micropolítica, antropologia um “enrabamento”, como dizDeleuze.

Em seguida Paulo Henrique lança uma dúvida sobre a diferenciação entre pesquisa participativa e pesquisa-ação, então o professor esclarece que nem toda pesquisa participativa é pesquisa-ação ou pesquisa intervenção, a pesquisa participativa não é pesquisa-ação quando não promove o seminário. George lança uma pergunta a respeito da elaboração do problema na pesquisa, se ele também será definido de maneira coletiva ou pelo pesquisador,  complementado algumas falas expostas por integrantes da equipe do seminário, o professor esclarece que o pesquisador chega com suas ideias, monta um seminário e diz que a escuta é essencial para afinar o dispositivo, pois o sujeito que está inserido naquele meio tem um olhar mais refinado da situação, dessa forma não há uma atitude autoritária por parte do por parte do especialista, isto não é um problema de cunho político e sim epistemológico.
Marçal complementa a discussão lembrando do conceito de ação comunicativa de
Habermas, Íria acrescenta dizendo que vê a presente na questão do consenso, da
argumentação uma intersubjetividade. O professor confirma as observações afirmando a possibilidade de encontrar Habermas, fala também que com a pesquisa-ação, se tudo der certo veremos que o conhecimento é uma produção social, que ele só se deixa conhecer se houver a intervenção  numa dinâmica, pois o social é problemático, quer conhecê-lo então o transforme.

Sobre os comentários a respeito da apresentação Paulo Henrique comenta a respeito da dinâmica da apresentação, na qual a equipe mostrou-se firme, interagindo bem. Thamila também fala da dinâmica da apresentação, que não foi enfadonha, tanto que não percebeu o tempo passar e George diz que o assunto foi muito bem exposto e o ajudou a encaixar suas ideias.

Professor Fonteles esclarece que a maior parte das pesquisas não transformam a vida das pessoas, pois ainda temos a concepção de que elas descrevem o homem, herança da lógica positivista onde conhecer é descrever, ainda estamos simplesmente
produzindo os fenômenos e não os transformando. O professor da um fechamento da aula do dia mencionando o texto da aula seguinte sobre pesquisa audiovisual, qual o lugar do som, das imagens e da linguagem nas pesquisas em ciências humanas;  lembra dos próximos relatores, Kércio e Paulo Henrique, Beatriz e Mayara e diz a turma que na aula seguinte iremos falar sobre os projetos de pesquisa. Sem mais considerações encerra-se a aula do dia primeiro de abril às nove e meia, devido a ausência de intervalo.

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