sexta-feira, 1 de abril de 2011

Relatório de 1 de Abril de 2011

Por Túlio Kércio Arruda Prestes


Babi, após saudar a turma, inicia a aula fazendo referência ao dia da mesma. O 1º de abril, popularmente conhecido como o dia da mentira, pode segundo ele ser o dia da grande verdade, possibilidade que aprendeu com um grande amigo seu. Em seguida, relembra os assuntos estudados na aula anterior e antecipa o que será tema da aula referida, a saber: discussão sobre a metodologia da pesquisa-ação, as propostas de projeto de pesquisa envolvendo questionamentos como “o que pesquisar?” (apresentação do objeto), e “como proceder?” (procedimentos metodológicos).
                Posteriormente, Andressa lê o relatório da aula anterior feito em conjunto com Danielle. Terminada a leitura do trabalho da dupla, mais um relatório é lido, este feito por Lycélia e Jane. Ao fim da leitura dos relatórios, Babi sugere que comentemos os mesmos. Após um longo silêncio da turma, o professor faz algumas reflexões sobre a importância desse ato de comentar. Babi nos fala que comentar é estabelecer uma conexão com o momento vivido, comentar é se concentrar a algo, permitir-se. Sendo este um exercício que vai além de uma mera vontade de falar sobre algo.
Babi fala que há três funções no ato de comentar. A primeira estaria relacionada à possibilidade de marcar a própria passagem, à medida que através do comentário podemos deixar nossos grifos. Comentar poderia ainda ter uma segunda função: ser um exercício, um primeiro passo, para um dia chegar a criar. É esse exercício de comentar a palavra dos outros que permite a própria diferenciação, e para, além disso, ter a própria voz, o próprio pensamento. Comentar é, pois, em última instância afirmar-se vivo. O professor então pede aos estudantes que comentem inclusive o que acabou de afirmar.
George inicia falando que aprecia o relatório como um mecanismo para a retomada de discussões das aulas anteriores, e o quanto é importante para pessoas que não puderam comparecer a aula. Kércio fala que é interessante a construção de um relatório feito por duas equipes, ou seja, um relatório escrito por oito mãos, de um momento que foi construído por tantas outras. Thamila fala em materializar o tempo, esse tempo que foi vivido por nós e que agora é materializado em palavra. Íria fala que o relatório é uma espécie de fotografia que é totalmente dependente do olhar do fotógrafo em questão.
Andressa então comenta sobre sua experiência na construção do relatório, falando-nos da intensidade da aula trazida no mesmo e do esforço para condensar todas as ideias debatidas. Ressaltou ainda a dificuldade de vivenciar e descrever ao mesmo tempo, refletindo que através desse exercício percebeu uma densidade maior nos debates referidos.
Sobre essa experiência compartilhada por Andressa, Babi afirmou que a palavra falada é mais livre, enquanto que a escrita parece ser mais normativa, e sobre essa espontaneidade da fala ressalta como o mecanismo de gravar as aulas pode ser um recurso interessante. Fabrício prossegue comentando sobre os relatórios dizendo ter visto diferenças entre os mesmos. Afirma que os dois se complementam, pois enquanto um valorizou mais especificamente os debates suscitados pelos seminários, o outro valorizou a apresentação do conteúdo, e a visão do autor.
O professor discorre da nossa necessidade de dar vazão a tudo o que construímos durante a aula, em um momento que pode passar de maneira veloz, mas que nos marca profundamente. Babi diz que percebeu essa característica nos relatórios trazidos pela turma devido a quantidade de vírgulas contidas, o que demonstrava uma certa sede por escrever.
Babi então fala que nas ciências humanas nós não descobrimos nada sobre o homem, à medida que este não é uma verdade a ser desvelada. Pelo contrário, compomos, instituímos e inventamos esse homem. Para ilustrar, o professor cita o exemplo que antes de Freud falar sobre o inconsciente não fazia falta, simplesmente não se falava sobre isso, entretanto hoje já conhecemos técnicas, métodos para conhecer essa invenção genial de Freud.
A outra invenção deu-se o nome de classes sociais, e que depois de Marx se institui o homem em classes e daí advém inclusive projetos para transformar essa realidade, cria-se assim idéias que intervém no mundo. Ressalta, porém, que não há como criar sem concentração, é necessária uma atitude diferente, pois cada experiência pode servir de estímulo a criação se pudermos aproveitá-las.
Ainda comentando os fichamentos, o professor pede que os discentes aprofundem o conceito de autonomia, já que este é um conceito extremamente caro à própria vida. O professor Babi então explica que a autonomia não se trata de um recipiente em que se acumula maturidade, por exemplo. A autonomia se expressa em uma relação de forças entre indivíduos e/ou grupos. Para encerrar, Babi reforça a ideia de que a terceira dimensão do comentar é justamente inventar, e em se tratando de ciências humanas, instituir o homem, inventá-lo. Uma tese de doutorado é, dessa forma, um comentário, mas não uma verdade. Nas ciências humanas a paixão não deve voltar-se para a verdade, mas para as criações.
Com o fim dos comentários acerca dos relatórios, dá-se inicio à apresentação do seminário, o qual a equipe composta por Beatriz, Mayara, Andressa e Shyrlane ficou sendo responsável por facilitar a discussão a respeito da metodologia da Pesquisa-ação.
Logo após a exposição, George fala especificamente da palavra “ator”, presente no texto apresentado, e ressalta que em sua opinião na pesquisa-ação, os participantes não são “atores”, mas de fato “autores”. George acrescenta que não conseguiu compreender a distinção entre metodologia e método. Babi então expõe que esses termos (método e metodologia), são diferentes no francês já que neste idioma o conceito de método é mais amplo do que o de metodologia.
Seguindo a dúvida de outros alunos, quanto a termos ou a expressões utilizadas pelo autor do texto em debate, Babi, fala da importância de contextualizar os conceitos por seus múltiplos significados e, citando Foucault, acrescenta sobre a necessidade de “rachar as palavras”.
Paulo Henrique pergunta a respeito de como se dá a participação dos pesquisados em uma pesquisa intervenção. Babi responde que enquanto dispositivo o seminário é um dos lugares onde todos têm o poder de construir de forma coletiva e dialógica os rumos da ação. Comentando sobre a sua pesquisa de doutorado, o professor nos fala que de início achava que estava fazendo algo semelhante a uma etnografia ou a uma pesquisa-ação, mas depois se deu conta de que o que realmente estava fazendo era inventar uma metodologia própria, que consistia em “uma descrição densa de uma experimentação intensa”, na qual dialogava com a análise institucional, a micropolítica, a cartografia e até a antropologia, sendo que nessa última área dizia estar muito mais “pervertendo” algumas teorias.
George, referindo-se a pesquisa-ação, pergunta se a formulação do problema é construído coletivamente ou se o pesquisador é um “impulsionador” das ações. O professor então diz que o pesquisador até pode propor algo aos sujeitos da pesquisa, já que este não está isento de sugerir ações, mas que nesses espaços o fundamental é desenvolver a escuta para afinar o dispositivo seminário já que é por meio deste que é constituído o problema de maneira coletiva. Marçal aponta aproximações da pesquisa-ação com a ética do discurso proposta por Harbermas. Íria então completa comentando que também notou tais semelhanças, citando que nas duas conjectutas visa-se um exercício de intersubjetividade entre todos os envolvidos.
Concordando com os discentes, Babi comenta que na pesquisa-ação o conhecimento é uma produção social, coletiva, sendo inclusive desnecessário a divisão saber formal/informal. O social só se deixa conhecer através da intervenção, entretanto, o professor conjectura, em um tom de lamento, que apenas 90% das pesquisas que foram feitas sobre o ser humano não se dispõem a transformar a vida das pessoas, pois ao que parece esses pesquisadores conceberam que estudar o homem não é intervir de maneira conjunta, mas simplesmente descrever um fenômeno.
Ao longo de toda a aula compreendemos que nas ciências humanas só conseguimos conhecer à medida que intervimos, transformamos e obrigatoriamente inventamos, produzindo assim um conhecimento que é metafórico e que tenta capturar o que está em pleno movimento, daí porque essas imagens são sempre um tanto “borradas” e sempre contingentes. É então nesse sentido ao mesmo tempo dinâmico e inventivo da produção de conhecimento que encerro este relatório não com um ponto, mas com uma vírgula.

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